João Batista é enviado por Deus como missionário da alegria: veio para dar testemunho da luz. Hoje acendemos a terceira vela da Coroa do Advento; assim se percebe a prece franciscana: onde houver trevas que eu leve a luz. João Batista, que batiza em água, aponta para aquele que eles não conhecem: aquele que batiza no fogo.
III Domingo de Advento
Estimados irmãos, não basta que nos digam alegrai-vos. É necessário mergulharmos na fonte de onde brota o fruto da alegria. É certo que alguém nos pode trazer o testemunho da boa nova, mas se ficarmos apenas pela notícia em breve o nosso entusiasmo sucumbirá. Atenda-se ao testemunho dos samaritanos que, num primeiro momento, creram em Jesus apenas pela palavra da Samaritana, mas, no segundo momento, afirmaram: já não é pelas tuas palavras que acreditámos; nós próprios ouvimos e sabemos que Ele é verdadeiramente o Salvador do mundo (Jo 4, 42). Passaram da água do poço à Água Viva.
Hoje é o Domingo da Alegria (Gaudete). As palavras de São Paulo parecem inoportunas para a época que atravessámos. Em pleno contexto de assustadora pandemia, o Apóstolo recomenda: vivei sempre alegres, dai graças em todas as circunstâncias. Que motivos têm para se alegrar tantas pessoas enlutadas pela morte de familiares vítimas da pandemia? Que motivos têm para dar graças, em todas as circunstâncias, as pessoas gravemente prejudicadas, no seu legítimo sustento, pela crise decorrente deste flagelo? Que motivação e esperança têm estas pessoas confinadas para cantar o salmo desta missa, exulto de alegria no Senhor?
Há alegrias que não são alegria. Mas, afinal, o que é a alegria? O resultado da ingestão de um estupefaciente cujo efeito inebriante é como a erva que pela manhã brota e viceja, mas à tarde murcha e seca? (Salmo 90). Será aquela bebedeira que, em vez de favorecer o desejado gaudio, resulta em profunda tristeza na violência doméstica e na desgraça de tantas pessoas e famílias? Não será antes aquela misteriosa embriaguez que resultou da efusão de um certo vinho doce quando todos, no dia do Pentecostes, estavam assombrados e, sem saber o que pensar, diziam uns aos outros: que vem a ser isto? (At 2, 12).
Não foi por acaso que o Papa Francisco nos escreveu a Exortação Apostólica A Alegria do Evangelho (Evangelii Gaudium). Nessa mensagem o Papa recorda-nos que o próprio Jesus alegrou-se no Espírito Santo (Lc 10,21). A verdadeira alegria é a que resulta, como fruto, daquele vinho efusivo de que nos fala o início da primeira leitura: o Espírito do Senhor está sobre mim. Por isso o Apóstolo recomenda: não apagueis o Espírito. O Magistério da Igreja esclarece: é graças ao poder do Espírito que os filhos de Deus podem dar fruto (CIC 736). A Carta aos Gálatas é esclarecedora nesta matéria ao afirmar que a alegria é fruto do Espírito Santo (Gl 5, 22). Daqui resulta a bendita unção que constitui boa nova para os pobres, cura para os corações atribulados, redenção para os cativos e liberdade para os prisioneiros. Esse é o dom que nos reveste e nos envolve, que faz brotar e germinar, que é, nas palavras do Credo, o Senhor que dá a vida. Esse é o dom que nos capacita para sermos missionários à maneira da oração de São Francisco: onde houver tristeza que eu leve a alegria.
João Batista é enviado por Deus como missionário da alegria: veio para dar testemunho da luz. Hoje acendemos a terceira vela da Coroa do Advento; assim se percebe a prece franciscana: onde houver trevas que eu leve a luz. João Batista, que batiza em água, aponta para aquele que eles não conhecem: aquele que batiza no fogo. Portanto, para serem levados ao reconhecimento daquele que está no meio deles, vai ser necessário esse outro batismo: a Efusão do Espírito Santo que leva ao conhecimento de Cristo. Por aqui se entende aquela canção que diz: a alegria está no coração de quem já conhece a Jesus. São pertinentes as primeiras palavras do Santo Padre na referida Exortação: A alegria do Evangelho preenche o coração e toda a vida de quem se encontra com Jesus (EG 1).
Diz o Profeta: no meio de vós está Alguém que não conheceis. Nós acrescentámos: no Advento está alguém que muitos não reconhecem; no Natal está alguém que muitos ignoram. Nesta eucaristia torna-se presente alguém que permanece escondido. Para que este mistério seja reconhecido é necessário passar do batismo na água da pia ao batismo na Água Viva.
À luz desse novo nascimento faz todo o sentido o Domingo da Alegria; faz todo o sentido o convite do Apóstolo: vivei sempre alegres; faz todo o sentido cantar jubilosamente o salmo: exulto de alegria no Senhor. Faz sentido porque a alegria que experimentámos, como fruto do Espírito, aliada à esperança, excede, em muito, as contrariedades da vida. Faz sentido porque na eucaristia recebemos Jesus.
Olhando para as velas da Coroa do Advento, pedimos ao Senhor que queime o nosso coração como abriu os olhos dos Discípulos de Emaús.