Domingo de Ramos
A Semana Santa começa com a festiva procissão dos ramos de oliveira: todo o povo acolhe Jesus. Esta celebração, tem por assim dizer, duplo sabor: doce e amargo. É jubilosa e dolorosa, pois nela celebramos o Senhor que entra em Jerusalém, aclamado pelos seus discípulos como rei; ao mesmo tempo, porém, proclama-se solenemente a narração evangélica da Sua paixão.
A Semana Santa começa com a festiva procissão dos ramos de oliveira: todo o povo acolhe Jesus. Esta celebração, tem por assim dizer, duplo sabor: doce e amargo. É jubilosa e dolorosa, pois nela celebramos o Senhor que entra em Jerusalém, aclamado pelos seus discípulos como rei; ao mesmo tempo, porém, proclama-se solenemente a narração evangélica da Sua paixão. Por isso, o nosso coração experimenta o contraste pungente e prova, embora minimamente, aquilo que deve ter sentido Jesus no seu coração naquele dia, quando rejubilou com os seus amigos e chorou sobre Jerusalém. E estes dias continuarão no mistério da morte de Jesus e sua ressurreição. Assim, enquanto festejamos Jesus, como nosso Rei, pensemos nos sofrimentos que Ele teve de enfrentar. Jesus tinha-o dito claramente aos seus discípulos: “Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt.16, 24). Nunca prometeu honras e sucessos. Sempre avisou os seus amigos de que a sua estrada era aquela: a vitória final passará através da paixão e da cruz. E, para nós, vale o mesmo. Para seguir fielmente a Jesus, peçamos a graça de o fazer não por palavras, mas com obras, e ter a paciência de suportar a nossa cruz: não a recusar nem deitar fora, mas, com os olhos fixos nele, aceitá-la e carregá-la dia após dia.
O Evangelho deste Domingo de Ramos na Paixão do Senhor é o imenso e impressionante relato da Paixão do Senhor (Mt.26, 14-27, 66), que marca o ritmo da “Semana Santa”, que as Igrejas Orientais chamam “ Semana Grande”, e que o antigo rito da Igreja de Milão conhecia por “ Semana Autêntica.” Somos nós, portanto, carregando os nossos ódios, raivas, mentiras, invejas e violências, seguindo a par e passo o Rei manso e obediente que a nós e por nós se entrega por amor, absorvendo, absolvendo e dissolvendo assim o nosso lado sombrio e pecaminoso. Momentos decisivos em que, como Igreja que somos, seguimos Jesus, passo a passo: a unção para a sepultura em Betânia, a última Ceia, o abismo do Getsémani, onde Cristo, embora Filho de Deus, treme perante a morte, mas aceita-a, submetendo a Sua vontade humana à Vontade divina…a agonia e a Morte precedida do “grande grito”, que indica a Vitória de Deus, a sepultura…Proclamação da máxima Obra de Deus no mundo. Segue-se a sepultura num túmulo novo, como convém ao Rei, sempre o primeiro em tudo.
Olhando para a primeira leitura de Isaías 50, 4-7, encontramos o chamado “ terceiro canto do Servo”. Gerado na dor de Israel como verdadeiro filho do milagre, ergue-se esta singular figura de “Servo”, totalmente nas mãos de Deus, desde a sua predestinação no seio materno, passando pela sua entrega à morte, até à sua exaltação e glorificação, de tal modo que Deus o pode chamar “ meu Servo”. “O servo” é um discípulo a quem Deus abre os ouvidos até ao coração, para ouvir bem a mensagem de Deus, e poder levar uma palavra de consolo aos que dela necessitam. A mesma expressão se aplica a Jesus. (Lc.9, 51).
Finalmente, em claro paralelismo com o “servo”, cantado por Isaías, na 2ª leitura, está Jesus apresentado por Paulo aos Filipenses (2, 6-11). Mas aqui, o “Servo” tem um Rosto e um Nome: Jesus recebeu, na Sua Humanidade, o Nome divino, Nome Incomparável. “ Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai..” Tudo isto, por amor. Estranho este Senhor-Rei que, Se entregou para morrer. Não foi incompreensão nem inveja, mas foi consequência. Jesus morre porque amou e porque ensinou a amar. De facto, o nosso Rei é um Rei de Amor. Por isso, ousamos pedir-Lhe, hoje e aqui, nestes tempos tão marcados pelo ódio, guerra, vingança, exploração e violência:
“Rei de Amor, ensina-nos a amar. A amar a nossa vida, o nosso próximo, de modo especial, os mais vulneráveis, os pobres das várias formas de pobreza de hoje.
Rei fiel, ensina-nos a fidelidade, transparência e coerência capazes de justificar as nossas opções de vida.
Rei de Paz, ensina-nos a não responder à violência com violência, mas a perdoar sempre e a aceitar as contrariedades da nossa vida sem vinganças, revoltas nem ressentimentos.
Rei de Israel, ensina a Igreja a reinar… Não no esplendor, no poder e no prestígio, mas na humildade e proximidade; não na exclusão, mas no acolhimento; uma igreja aberta a todos, “em saída”, fiel ao Evangelho e corajosa no anúncio, lugar de solidariedade e fraternidade, vivendo cada vez mais a sinodalidade.
Rei da Glória, que a nossa morte e o nosso egoísmo não nos ceguem nem nos condenem, mas que a nossa vida e as nossas ações nos conduzam ao teu Reino, Reino onde habitam a paz e a justiça. Reino onde habita o Amor.