Tempo da Criação: A Casa Comum Precisa de Todos
O Tempo da Criação é uma oportunidade para dar a conhecer estes possíveis caminhos, propondo, por exemplo, momentos de oração ecuménicos, a integração de temas da Criação na liturgia, exercícios de contemplação, a adoção de novos estilos de vida individuais ou institucionais, a organização de eventos sustentáveis..
José Varela (Comissão Executiva da Rede Cuidar da Casa Comum)
01 de setembro de 2021
Desde o dia 1 de setembro, Dia Mundial de Oração pela Criação, até 4 de outubro, Solenidade de São Francisco de Assis, decorre o Tempo da Criação, uma celebração ecuménica cristã de oração e ação pelo cuidado da Casa Comum. O tema deste ano é “Uma Casa para Todos? Renovando o Oikos de Deus”.
Se nos deixarmos tocar por esta interpelação, é natural que nos interroguemos sobre o que podemos fazer de concreto face a problemas ambientais, económicos, sociais e espirituais de grande complexidade, tão bem apresentados pelo Papa Francisco na encíclica Laudato Si’ (LS). Isto quando, por vezes, é difícil escolher entre os aparentemente pequenos gestos individuais, o envolvimento em movimentos comunitários ou a ação no âmbito dos sistemas políticos e económicos.
Conforme é explicado no Guia de Celebração do Tempo da Criação (1), as Igrejas cristãs envolvidas pretendem “desenvolver uma nova maneira de ver as Escrituras, a vida e a Terra, tudo no Oikos de Deus”. Ao introduzir o conceito de Oikos no tema, o objetivo é destacar “a teia integral das relações que sustentam o bem-estar da Terra”, esta comunidade que é a “Casa Comum” pertencente a Deus e à qual pertencem todas as criaturas.
Reconhecer aquela teia de relações é também admitir que é necessário atender aos limites da Terra e encontrar alternativas para a conceção da Criação como “um meio para fins económicos e políticos”.
O logotipo do Tempo da Criação para este ano é a tenda de Abraão, através do qual se pretende simbolizar o apelo ecuménico desta celebração para “praticar o cuidado da criação como um ato de hospitalidade radical” - afirmando que há espaço para todas as criaturas na Casa Comum - e também de simplicidade, já que a tenda permite “viver apenas com o necessário e viajar sem peso pelas terras”.
As reações às questões sociais e ambientais e ao apelo que nos é feito por este tipo de celebração e, de uma forma contínua, pela Laudato Si variam grandemente. Por exemplo, ao nível político internacional são comuns as “proclamações superficiais, ações filantrópicas isoladas e ainda esforços por mostrar sensibilidade para com o meio ambiente” apesar de inconsequentes (LS 54). Em muitas populações, “cresceu a sensibilidade ecológica (…) mas é ainda insuficiente para mudar os hábitos nocivos de consumo” (LS 55). Por outro lado, existem ações que “não resolvem os problemas globais” mas são “exemplos positivos de resultados na melhoria do ambiente “ (LS 58).
Porém, para além da indiferença ou incompreensão, dentro e fora da Igreja, existem também diversos percursos inspirados pela conversão ecológica integral que mostram que “as coisas podem mudar” (LS 13).
Nestes percursos, todas as dimensões e vertentes são importantes, não sendo necessário eleger se o caminho a seguir é primordialmente um esforço de conversão individual de cada um ou se são os movimentos coletivos e institucionais; se é de pendor essencialmente espiritual ou pelo contributo no mundo económico, político ou social. É necessário, sim, que cada pessoa e instituição possa discernir qual o caminho a que se sente chamado.
O Tempo da Criação é uma oportunidade para dar a conhecer estes possíveis caminhos, propondo, por exemplo, momentos de oração ecuménicos, a integração de temas da Criação na liturgia, exercícios de contemplação, a adoção de novos estilos de vida individuais ou institucionais, a organização de eventos sustentáveis, ou o envolvimento em campanhas de advocacy locais ou internacionais – como a petição católica “Planeta Saudável, Pessoais Saudáveis”(2) em preparação das Cimeiras da ONU sobre a Biodiversidade e o Clima.
No final do Tempo da Criação, a Plataforma de Ação Laudato Si, lançada pelo Vaticano este ano, irá começar a disponibilizar planos para apoiar os percursos de famílias, comunidades e diversos tipos de entidades rumo à ecologia integral, a desenvolverem-se em sete anos. A diversidade de setores abrangidas por estas propostas permite que, na prática, qualquer pessoa ou instituição possa assumir o seu compromisso inscrevendo-se no site da Plataforma(3).
Todos estes possíveis caminhos são essenciais na “preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral” (LS 13), pois a Casa Comum é, sem dúvida, para todos, mas também precisa do cuidado e envolvimento de todos.