Jeff Bezos poderia salvar todos no planeta
Sabia que a riqueza dos dez homens mais ricos aumentou meio trilião de dólares americanos desde o início da pandemia? Uma quantia mais do que suficiente para pagar a vacinação de todos os seres humanos e evitar a pobreza de todos aqueles negativamente afetados pela COVID-19?
Filipa Pires de Almeida
29 de setembro de 2021
Sabia que a riqueza dos dez homens mais ricos aumentou meio trilião de dólares americanos desde o início da pandemia? Uma quantia mais do que suficiente para pagar a vacinação de todos os seres humanos e evitar a pobreza de todos aqueles negativamente afetados pela COVID-19? Esta informação foi apresentada pelo mais recente estudo da OXFAM “O Vírus da Desigualdade”, divulgado este ano (1). Trata-se de um estudo que vem reforçar os dados já conhecidos: a desigualdade entre os pobres e os mais ricos em todo o mundo foi exponenciada durante a crise da COVID. De uma forma não surpreendente, verifica-se que a desigualdade causada pela pandemia tem, inclusive, o potencial de ser a mais alta registada nos últimos 100 anos, desde a Grande Depressão dos anos 20 do século passado. Apenas em 2020 o número de novos pobres atingiu valores de cerca de 100 milhões de pessoas.
Estes factos são verdadeiramente perturadores, se considerarmos que uma das maiores histórias de sucesso dos últimos anos de desenvolvimento económico, foi a diminuição da pobreza. Nos últimos trinta anos, a pobreza mundial diminuiu para metade daquilo que se verificava no início da década de 1990. Uma história revertida desde o início de 2019, quando a crise da COVID afetou de forma desproporcional os mais desfavorecidos e expostos a este choque social. Inevitavelmente, os mais pobres e vulneráveis, crianças, mulheres, desempregados, excluídos dos sistemas de saúde nacionais estão na lista dos mais fortemente afetados pela crise pandémica.
Numa outra vertente, pensemos que, no ano de 2021, enquanto enfrentamos este fenómeno, alguns dos milionários mais conhecidos do mundo embarcaram em aventuras espaciais de proporções planetárias: Jeff Bezzos, Richard Branson e Elon Musk. Num momento em que o mundo se depara com mortes incontornáveis e alterações climáticas (já) descontroladas, a desiguadade social atinge dimensões verdadeiramente “espaciais”. Na verdade, sabemos que a cada minuto morrem cerca de 11 pessoas de fome no mundo. Por outro lado, Jeff Bezos demorou 11 minutos para estrear a sua viagem espacial pelos caminhos além da órbita terreste. São estes minutos e recursos que ditam a nossa desigualdade gritante.
Serão estes os feitos dos quais a humanidade se orgulhará nos anos 20 do século XXI?
Não tenho a resposta certa para esta questão. Mas se temos toda a tecnologia e meios de que precisamos para resolver a crise da COVID e a pobreza mundial, por que não está a humanidade a atuar de forma incisiva nestas soluções? Sabemos que Jeff Bezos tem capacidade de pagar a vacinação de toda a humanidade de forma imediata e, ainda assim, ficar mais rico do que antes da pandemia. Elon Musk, Bill Gates e Mark Zuckerberg estarão possivelmente na mesma situação. Assim sendo, o que nos falta? Quais serão as barreiras que separam estas fortunas das soluções de que o mundo precisa? Serão estes líderes mundiais que fazem avançar o progresso tecnológico, responsáveis pelo progresso social? Ou será a sua desresponsabilização que fará avançar a parte que lhes compete no progresso científico e económico que o mundo precisa? Deverão as questões sociais ser endereçadas por outros? Quem?
O que pensa um líder cristão de todos estes cenários? Se vivêssemos todos o espírito cristão de liderança à luz dos princípios da doutrina social da Igreja, precisaríamos desta reflexão? A resposta deixo-a com uma frase de Tolstoy: “Todos pensam em como podem mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar-se a si próprio”. Se cada um o fizesse, este texto seria desnecessário.